Na época de Jesus a mulher não era mais do que uma propriedade do seu marido. Este possuía servos, propriedades e a mulher. Ela era considerada pecadora e mentirosa por natureza. Seu testemunho em um julgamento era considerado de pouco valor.
Após a ressurreição, foi às mulheres que Jesus apareceu primeiro. Elas correram e contaram aos apóstolos. Mas estes não as levaram a sério. Era o testemunho de mulheres, e mulheres eram influenciáveis e pouco confiáveis. Mas Jesus confiava nelas.
Também foi para uma mulher que Jesus primeiro revelou, de modo claro, que era o Messias. Ele escolheu uma mulher, não judia e discriminada, para se revelar. Ele estava na região da Samaria, junto a um poço d’água, quando uma samaritana se aproximou deste poço a fim de retirar água. Jesus pediu a ela um pouco de água. A mulher ficou surpresa, porque judeus não usavam copos, pratos e talheres que tivessem sido usados pelos Samaritanos ou por pagãos (pois os consideravam impuros). Mas Jesus usava, pois Ele não era prisioneiro dos preconceitos de sua época. Em troca da água Jesus ofereceu seu conhecimento e se revelou o Messias.
O que mais impressiona neste ato é que Jesus lida com a Samaritana sem preconceitos raciais, culturais ou sexuais. Ela é um ser humano, e como tal merece conhecer e viver a palavra de Deus. Jesus reconhece que o que nos separa é o preconceito e que a palavra de Deus não deve ficar prisioneira dos preconceitos. Ela é para TODOS.
Leia a interessante opinião de Aleksandr Mien (A) e depois aprenda um pouco como era a vida das mulheres naqueles tempos (B).
(A) “Para Sócrates, a mulher era um ser estúpido e enfadonho. Buda não permitia nem que seus seguidores olhassem para as mulheres. No mundo pré-cristão, as mulheres quase sempre não passavam de servas mudas, cuja vida só conhecia o trabalho extenuante e as obrigações de casa. Não é à-toa que uma oração judaica dizia: “Agradeço-te, ó Deus, por não me teres feito mulher”…
Foi Cristo quem restituiu à mulher a dignidade humana que lhe fora tirada, o direito de ter exigências espirituais. A partir dele, o lugar da mulher não se limitou mais ao lar doméstico. Por isso, no grupo dos seus seguidores mais íntimos vemos muitas mulheres, principalmente da galiléia. Os Evangelhos transmitiram o nome de algumas delas: Maria Madalena, que Jesus curara de “sete demônios”, Salomé, mãe de João e Tiago, Maria de Cléophas, prima ou irmã da mãe de Jesus, Suzana e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes Antipas. As mais ricas sustentavam a pequena comunidade com seus bens, mas Jesus não queria que o papel delas se restringisse apenas a isso.
Durante visita a Jerusalém, Jesus estreitou amizade com a família de um certo Eleazar, ou Lázaro, que vivia com as irmãs Marta e Maria em Betânia, pequena cidade da periferia da capital. Jesus gostava muito da casa deles, e para lá se retirava freqüentemente, quando queria descansar. Certa vez, estando com eles, Marta andava afobada, preparando algumas coisas para o hóspede, enquanto Maria, sentada aos pés do Mestre, escutava. Após ver isto, a irmã mais velha disse a Jesus:
– Senhor, não te importas que minha irmã me tenha deixado sozinha a fazer o serviço? Diz-lhe que me venha ajudar.
– Marta, Marta – disse-lhe Jesus – tu te preocupas e te agitas por muitas coisas. Mas uma coisa só é importante. E Maria escolheu justamente a melhor parte, que não lhe será tirada.
… Mais tarde, na hora da provação, as primeiras mulheres cristãs não abandonarão Jesus, como os discípulos homens. Elas estarão com Ele no Gólgota no momento da morte, acompanharão o seu corpo até o lugar da sepultura, e é a elas que será revelado o mistério da ressurreição em primeiro lugar.
Portanto, o Evangelho rompeu com todas as barreiras que desde sempre dividiam os homens. …” (do livro: Jesus, Mestre de Nazaré, pág.105,106)
(B) Um pouco de história:
– Uma mulher judia sair de casa sem cobrir a cabeça era considerado ato tão ofensivo ao marido que este tinha o direito de repudiá-la e separar-se dela (sem direito algum para a esposa).
– O homem bem educado jamais poderia se encontrar a sós com uma mulher.
– Se a mulher fosse casada o homem deveria evitar olhá-la ou saudá-la.
– Um pai podia vender sua filha como escrava, após ela ter completado 12 anos. Fato pouco comum, mas que servia para manter a submissão feminina.
– As filhas tinham que ceder os principais lugares para os filhos e, inclusive, permitir que eles passassem primeiro pelas portas das casas. Em muitos lares os filhos eram incentivados a usar sua força contra as filhas a fim de irem aprendendo a dominar as mulheres.
– As mulheres não tinham acesso ao ensino religioso e eram deixadas à parte nos cultos.
Muitas outras opressões existiam contra as mulheres. Imagine a coragem de Jesus ao conversar com elas, instruí-las e tratá-las com dignidade.
JESUS E AS MULHERES: A MULHER NOS EVANGELHOS SINÓTICOS
Odalberto Domingos Casonatto – Perfil do Autor:
“Com doutorado em Sagradas Escrituras pela Escola Bíblica de Jerusalem, se dedicou por muitos anos como professor de Novo Testamento no Instituto de Teologia e Pastoral de Passo Fundo, RS, e no Curso de Teologia e Pastoral de Férias. Além disse sempre acompanhou a caminhada dos grupos de Estudos Bíblicos com palestras e Cursos. Se dedica a pesquisa biblica. Rosalir Viebrantz, doutoranda em Educacão pela PUCRS. Trabalhou muitos anos com movimentos de mulheres nas vilas populares de Porto Alegre. Seu trabalho de mestrado, pela UPF, Universidade de Passo Fundo, foi sobre meninos e meninas de Rua da cidade Passo Fundo RS.”
No Antigo Testamento encontramos muitas mulheres exercendo forte liderança. Elas envolviam-se com a defesa, permanência e a formação da consciência do povo hebreu. As mulheres estão presentes onde a vida está fragilizada e ameaçada. O riso de Sara, no livro do Gênesis nos revela sua participação na constituição do povo ao gerar um filho. Os cânticos de Míriam, Débora e Ana revelam a alegria da mulher, fazendo sua parte na história da salvação. Rute é o exemplo de solidariedade da mulher oprimida. As parteiras no Egito, com coragem e astúcia tramam um novo projeto de sociedade.
Nesta nova sociedade a vida deve ser defendida e preservada. Jael e Judite são exemplo de firmeza na luta de resistência. Ester com determinação expõe a própria vida pela salvação de seu povo. A mãe dos macabeus dá testemunho de fé e foi fiel ao Projeto de Javé. Outras grandes profetizas como Débora e Hulda não podemos esquecer. A tradição de fé em Israel tem marcas da atuação feminina. Lá onde a capacidade de resistência do povo parecia se esgotar, sempre aparece uma mulher forte.
O Novo Testamento, não é diferente do Antigo Testamento, quanto a participação feminina na caminhada do Povo de Deus. Encontramos Maria a mãe de Jesus e as outras mulheres, as discípulas que permaneceram com Jesus ao pé da Cruz.
Jesus interfere na ordem da sociedade patriarcal, desperta a potencialidade da mulher, a chama para ser também suas discípulas e isto aconteceu.
Jesus tem outra visão sobre a mulher do seu tempo. Ele altera o relacionamento homem – mulher. Numa sociedade que dava privilégios ao homem Ele procura tirar estes privilégios. Um exemplo podemos citar em Mt.19,7-12, que trata a questão do divórcio.
Jesus apresenta uma outra atitude em relação ao Homem e Mulher, para ele deve existir igualdade entre ambos, nem mais e nem menos.
Nos evangelhos encontramos muitas mulheres que seguiam Jesus desde a Galiléia, e tornaram-se suas discípulas (Mc.15,41; Lc.8,1-13; Lc 8,43-49).
Para Jesus não havia distinção no revelar os seus segredos, ele falava tanto para os homens e mulheres que o seguiam e aceitavam a sua proposta.
A SITUAÇÃO DA MULHER NO JUDAÍSMO NO TEMPO DE JESUS
O Judaísmo segundo suas tradições encara a mulher de uma forma bem diferente do homem.
A constituição familiar no Judaísmo foi sempre patriarcal. Tudo girava em torno das decisões masculinas e ao homem se voltava. A religião judaica tem como rito de iniciação à circuncisão. Este rito é essencialmente masculino.
Existem dentro do Judaísmo alguns princípios que tentam segurar a consistência do ser Judeu. Assim Judeu é aquele que nasce de mãe judia (chamada por eles a “lei do ventre”), não existe outra possibilidade. É portanto, a mãe, não o pai, que determina a identidade judaica do filho; é a mãe a principal responsável pela educação dos filhos, pela manutenção do espírito judaico, da cultura e das tradições familiares. No âmbito da formação do lar judaico a Mãe representa uma peça fundamental.
Esta forma de pensar vem embasada na tradição bíblica, Deus se revela na pessoa humana. Mulher e Homem como pessoas distintas, iguais, livres em comunhão recíproca, desde a criação, representam igualmente a imagem de Deus sobre a terra.
Apesar deste pensamento divino de igualdade entre homem e a mulher no Antigo Testamento já se observa a discriminação da mulher:
– geralmente sem nome, pertencente ao pai;
– depois do casamento propriedade do marido, ele governava como senhor absoluto;
– sem autonomia, não era nem contada entre os habitantes;
– se estéril, era relegada ou substituída, pela escrava;
– sua participação era passiva somente para procriação;
– convivia com a poligamia do marido, sem poder reclamar, pois a poligamia era aceita.
No tempo de Jesus a situação da mulher era desprezível e não foi muito diferente das épocas anteriores.
Vejamos a mulher no judaísmo no contexto: social, político, econômico e religioso.
A participação da mulher na sociedade judaica
A mulher era marginalizada pelo simples fato de ser mulher. Vivia no silêncio e na obscuridade. Não era elencada como partícipe da sociedade. Ela só estava sujeita aos mandamentos da Lei.
O lugar da mulher é na sua própria casa
A mulher devia permanecer em casa, no gineceu (a parte destinada às mulheres).
Às jovens solteiras cabia ainda o pior: “A filha era para o pai uma preocupação secreta, e o cuidado por ela tirava o sono dele..”(Eclo 42,9-14).
A esposa, e as filhas tinham o dever de lavar o rosto, as mãos e os pés do pai.
O homem podia ter várias mulheres, mas a esposa tinha que conviver com as concubinas em sua própria casa. (privilégio dos ricos).
A noiva que tivesse relações com outro homem era considerada como adúltera, podendo ser castigada com a morte e pedradas; se fosse casada, o castigo era de estrangulamento. Para o homem não tinha castigo.
A mulher fora de casa.
Só podiam mostrar-se em público com o rosto velado, coberto com dois véus que não se pudesse distinguir os traços de seu rosto.
Se a mulher saía à rua sem cobrir a cabeça e o rosto ofendia os bons costumes. Por esse motivo o marido tinha o direito e o dever (religioso) de expulsá-la de casa e divorciar-se dela, sem estar obrigado a pagar-lhe o valor contratado no matrimônio;
Se a mulher perdesse seu tempo na rua, falando com outras pessoas, ou mesmo se ficasse na porta de sua casa, podia o marido repudiá-la sem qualquer compensação econômica;
Uma mulher não podia estar sozinha no campo, e um homem não devia conversar com uma estranha (Jo.4,27).
A mulher era vista como superficialidade, sexo, perigo e tratavam de cuidar-se dela.
A participação da mulher na política da sociedade judaica
As leis não protegiam em nada a mulher, ao contrário faziam elas dependerem das leis e estas as escravizavam. Desde o nascimento eram “mal acolhidas”. Passavam a contar apenas como objeto e propriedade de outros. Vejamos: É propriedade do marido, se casada; propriedade do pai, se solteira, propriedade do cunhado solteiro, se viúva sem filhos. Assim pertencendo ao seu dono, não podia dispor dos salários do seu trabalho.
As filhas mulheres só aumentavam o patrimônio do dono, uma vez que podiam ser vendidas, não eram herdeiras. Vendidas por dinheiro, ou por contrato. A mulher pertencia ao seu senhor – marido e tem que assumir todas as tarefas; não pode aproveitar-se nem dos rendimentos do seu trabalho.
Essa pobreza da mulher aparece no relato da viúva que “depositou tudo o que tinha para viver” no tesouro do templo, e eram “duas pequenas moedas”( Mc. 12,41-44).
A mulher também não podia votar. Não participava na vida pública.
A mulher judaica, no tempo de Jesus era em tudo, considerada inferior ao homem.
A participação da mulher na economia da sociedade judaica.
A mulher judaica trabalhava duramente em casa e no campo. Plantava, colhia, moía o trigo, a cevada e outros cereais. Preparava o pão, cozinhava, buscava água nas fontes e poços. Fiava e tecia o linho e a lã para fazer as roupas. Cuidava da família e educava os filhos.
A participação da mulher na religião judaica
Também para a religião oficial a mulher pouco contava.
A mulher judaica não tinha direito ao culto religioso. Tanto no Templo como na Sinagoga a mulher não participava, ficava atrás dos homens ou em lugares separados, em segundo plano, isto é, em lugares inferiores e secundários. Se não houvesse ao menos dez homens judeus, o culto não era celebrado, mesmo que estivessem presentes mais de cem mulheres, pois elas não contavam, por mais numerosas que fossem, pois, eram julgadas impuras, pecadoras, adúlteras enquanto o homem não.
Não tinha obrigações com a lei nem com as rezas diárias. Não eram aptas a pronunciar a ação de graças à mesa, nas refeições, nem qualquer outras orações ou oferecer sacrifícios.
Não precisava participar das festas em Jerusalém. Não precisava rezar três vezes ao dia como todo judeu homem. Todo judeu piedoso elevava a Deus três vezes por dia esta prece: “Eu te bendigo, Senhor nosso Deus, porque não me fizeste mulher”.
A mulher era obrigada a cumprir todas as proibições da lei religiosa e submetida ao rigor da legislação civil e penal, inclusive a pena de morte (Jo 8,1-5).
A mulher sofria discriminação fisiológica, pois era considerada impura nos dias da menstruação. Nesse período , a mulher não só ficava impura, mas tornava impuro tudo o que tocasse. Depois do parto permanecia impura por quarenta dias se a criança fosse varão e o dobro do tempo se fosse mulher. Depois de dar à luz, tinha de oferecer em sacrifício no Templo para serem “purificadas”(Lc. 2,22; Lv. 12,1-8). Não era impureza moral (com um pecado), era uma espécie de tabu.
Quando uma mulher casada perguntava alguma coisa, a resposta deveria ser o mais breve possível. Na presença de hospedes em casa, a mulher não pode participar do banquete. Não pode servir a comida (apenas toma parte no sábado e no banquete da Páscoa). Isso, por que temiam que a mulher ouvisse as conversas e não fosse discreta.
JESUS E AS MULHERES DO SEU TEMPO
Jesus inaugura uma experiência do Reino que recupera as pessoas, restituindo-lhe sua integridade e sua dignidade.
Por atitudes, Jesus estabelece novas características à comunidade: igualdade e participação de homens e mulheres juntos, pois o amor de Deus é para ambos. Jesus se posicionou contrário a opressão e a marginalização da mulher bem como dos outros excluídos (cegos, mudos, leprosos, pecadoras públicas, coxos, paralíticos).
Ele não apenas convive, mas acolhe e promove os desprezados pela religião e pelo governo. Jesus oferece um lugar na convivência humana, acolhe como irmã e irmão aos que eram rotulados e relegados:
– imorais: prostitutas e pecadoras (Mt.21,31-32; Mc.2,15; Lc.7,37-50);
– hereges: pagãos e samaritanos (Lc.7,2-10; 17,16; Mc.7,24-30);
– marginalizados: mulheres, crianças e doentes (Mc.1,32; Mt.8,17; 19,13-15; Lc.8,2);
– colaboradores: publicanos e soldados (Lc.18,9-14; 19,1-10);
– pobres: o povo da terra e os pobres sem poder (Mt.5,3; Lc.6,20-24; Mt.11,25-26).
Olhando o Evangelho encontramos muitos textos expressivos que falam da mulher. Na atividade evangelizadora de Jesus a mulher adquire outro patamar, muito diferente do Judaísmo e do Império Romano. Para Jesus a mulher ganha o seu devido valor e toma seu lugar na sociedade. Dois textos nos ajudarão a ver como Jesus recebe a mulher do seu tempo e tenta salvá-la: o caso da mulher pecadora e da viúva:
– A Mulher Pecadora – A gratidão demonstra o perdão (Lc.7,36-50) :
O texto de Lucas Lc 7,36-50, a mulher pecadora, mostra a atitude de Jesus em relação as mulheres de seu tempo.
A mulher pecadora é recebida por Jesus que de maneira humilde suplica e confia na misericórdia de Cristo. Aqui se confirma a fidelidade do serviço, visto a mulher passar à frente do anfitrião (um fariseu) omisso ou que pretenciosamente esqueceu os gestos orientais de boas vindas e cumpre, no lugar dele, os ritos de hospitalidade.
No seu gesto de molhar os pés de Jesus com as lágrimas, secar com os cabelos, cobri-los de beijos e os ungir com o perfume, os presentes, vêem a pecadora (certamente uma prostituta bem conhecida) praticar atos de arrependimento. Mas, dá testemunho, de Jesus, com esse seu gesto de maneira profética. Anuncia a Morte e Ressurreição. As imagens que a narrativa nos apresenta lembram os últimos momentos de Jesus. A dor estampada em suas lágrimas; os cuidados do corpo nos cabelos que enxugam e o envolvem como num sudário; os beijos com que o cobre prefiguram as mulheres que na ressurreição, lançar-se-ão aos pés de Jesus; a unção do perfume evocando tanto o rito fúnebre de sepultamento, quanto a difusão da boa – nova, propagado através do mundo.
Em contrapartida, a cena mostra que o fariseu somente o convida a comer com ele. Mas, a presença de Jesus não altera o seu modo de ser: pouco observa em Jesus; homenageia-o pouco; recebe-o mal, da boca para fora. A pecadora se distingue pela capacidade de comunicação, mesmo sem ser convidada: lágrimas, cabelos, perfume, beijos.
O fariseu é mesquinhez e isolamento. A mulher é o espírito do mundo reconciliado, a fé num Deus de amor.
Conforme os evangelhos podemos constatar a atitude sempre amistosa de Jesus para com todos, especialmente à Mulher. Muitos outros exemplos nos evangelhos mostram o respeito, a consideração e a misericórdia de Jesus para com as mulheres. Elas foram os primeiros não – judeus se tornarem membros do Movimento de Jesus. Foram responsáveis pela extensão deste movimento a não – israelitas.
O texto mostra que para Jesus as mulheres eram as suas seguidoras, como o eram os homens. Para o Reinado de Deus, anunciado por Jesus, todos são convidados: as mulheres e os homens, as prostitutas, os samaritanos e os piedosos fariseus. Ninguém é excluído. A mulher tem a mesma dignidade, categoria e direitos que o homem. Pela participação da mulher no seu grupo Jesus rejeita as leis e costumes discriminatórios que menosprezam essa dignidade, categoria e direitos e, arrisca o seu prestígio e a sua vida em favor da mulher. Esta atitude de Jesus gera uma nova comunidade sobre um novo mandamento: a igualdade, a participação de mulheres e homens juntos, pois Deus ama a todos igualmente.
Jesus afirma: “Muitos que agora são os primeiros, serão os últimos, e muitos que agora são os últimos, serão os primeiros”(Mc.10,31; Mt.19,30; 20,16), aplica-se também às mulheres e à sua situação de inferioridade nas estruturas dominadas pelos homens, nas estruturas da sociedade patriarcal.
Fazendo a proclamação do Reino para os pobres e fracos, Jesus queria abranger as pobres mulheres judias, e todas as outras, proclamando os direitos dos pobres e a justiça de Deus.
Jesus tem uma proposta em relação a mulher: Ele acaba com as exigências da família patriarcal e constitui uma nova comunidade familiar, comunidade que não inclui os “pais” enquanto se conservassem na estrutura de uma sociedade patriarcal. Na família cristã, marido e mulher, pais e mães, filhos e filhas, irmãos e irmãs são essencialmente filhos de Deus, irmãos em Cristo, próximos.
Essa promoção das mulheres, é um aspecto particular do Evangelho no que tem de mais essencial: a Boa Nova anunciada aos pobres, libertados com prioridade, por Jesus.
Quando Jesus “salva” uma mulher, muitas vezes assim o faz como desafio lançado à grupo dirigente. A inocência que defende, com o apoio do milagre, contesta a legitimidade dos poderes estabelecidos, protesta contra o arbitrário das reprovações coletivas.
– A Viúva de Naim – Deus veio visitar o seu povo (Lc.7,11-17):
Podemos imaginar a cena que aconteceu na época: Jesus com os discípulos e a multidão que o acompanhava estavam se aproximando da porta de entrada da cidade de Naim. Na porta da cidade encontram um grupo de pessoas que vão enterrar um defunto.
A descrição do episódio é rápida: era filho único, e sua mãe era viúva”(7,12). Jesus olhando a cena fica movido de compaixão.
A mulher viúva segundo o Antigo Testamento situava-se em um dos três estados de carência total. Somente uma mulher, talvez, poderia carregar este peso de dor e solidão. A viúva do relato era Judia e mulher: sua vida era a família e a família agora com a perda de seu filho desaparece. O filho da viúva se foi. Esta imagem da viúva destituída de filho é o arquétipo do infortúnio levado ao extremo.
Diante desta imagem do nada Jesus comove-se até as entranhas, conforme diz o texto. Em meio a tanta gente, Jesus apenas enxerga a solidão: a mãe. Entre todas as mulheres que encontrou, esta é a mais distanciada da esperança, da fé e da oração. E Jesus comove-se, com aquela piedade que a cananéia implorava em vão. Ela precisava da fé e Jesus dá a ordem: “Não chores!” E entregou o filho que se levantou à sua mãe. Hei-la de novo, de fato mãe, e com este filho ao qual lhe é entregue uma infinidade de bens que são a paz, o futuro, o amor, o relacionamento, a dignidade do ser, sua perseverança e o sentido da vida. A mãe ressuscita com o filho.
A mulher é apenas citada, mas permanece o pivô do relato, sóbrio combate em que a fé viva supera a incredulidade do luto.
Vimos o relato de duas figuras de mulheres, emblemáticas do desespero humano. Uma, rejeitada pela lei dos homens: a mulher pecadora, Lc 7,36-50; a segunda, pela perda do marido e do filho: a viúva de Naim.
Estas mulheres não agem por si mesmas. O Evangelho apresenta-as em sua solidão tormentosa, mas o tríplice destino da condenação, da enfermidade e da morte inflama a misericórdia de Cristo.
No Novo Testamento encontramos muitos outros texto que ilustram a nova proposta que Jesus em relação a mulher, lembramos outros:
– A Mulher Encurvada – Lc.13,10-17:
– A Mulher Sírio – Fenícia – Mc.7,24-30; Mt. 15,21-28 :
– A filha de Jairo e a A Mulher Hemorroíssa – Mt.9,18-26; Lc.8,40-56; Mc.5,21-43.
MINISTÉRIO DAS MULHERES
As discípulas de Jesus:-
Jesus criou um movimento novo, rompeu uma série de preconceitos culturais e entre suas inovações está o discipulado feminino. No seu discipulado, eram admitidas mulheres, em igualdade de condições com os homens. Jesus convive com elas, conversa, quer em particular, quer em público, procura escutá-las. elas participam ativamente e são beneficiadas com milagres e curas. Quebra os preconceitos da impureza, deixa-se tocar pela hemorroíssa. Ele mesmo toca o cadáver da filha de Jairo conforme (Mc.5,25-43).
Jesus não se esquiva de ser tachado de imoral e escandaloso, pelos fariseus, enquanto desafia os preceitos legais e entra em casa de mulheres sozinhas, como a de Marta e Maria (Lc.10,38-42).
Outra prática inconcebível para um rabino da época seria ter um grupo de mulheres que abandonassem seus lares para seguí-lo, viajando com Ele (Lc.8,1-3). Mas, a atitude de Jesus, com relação às mulheres é em muitos sentidos inovadora, até mesmo revolucionária.
Para ser discípulo de Jesus precisava: chamado, seguimento, serviço, visão, escuta e missão. As mulheres preenchem esses requisitos e se inserem nessa missão, desde a Galiléia até Jerusalém (Mc. 15,40-41).
Quando Jesus foi preso e condenado, os discípulos fogem. As mulheres arriscaram suas próprias vidas, permaneceram ao pé da cruz, foram ao sepulcro, creram e difundiram a ressurreição. Elas participam, portanto, de todos os fatos e acontecimentos.
Jesus chama as mulheres: no caso do seu discipulado, há um chamado por parte dele, isto é, o mestre toma a iniciativa, costume diferente de outros filósofos e rabinos. Jesus rompe as discriminações e chama os “impuros”, como o publicano Levi, zelotes, como Simeão e mulheres como Maria Madalena, Maria mãe de Tiago e Salomé.
As mulheres com gratuidade e prontidão dão resposta e tem presença marcante no discipulado de Jesus. As mulheres seguiam e serviam Jesus, conforme Mc.15,41. O mesmo Evangelista em 14,3-9 diz que uma mulher anônima unge a cabeça de Jesus com perfume de nardo puro (óleo perfumado, muito caro por causa de sua escassez). Essa era uma prática típica dos profetas, quando ungiam os reis: sinal de que as discípulas perceberam, na convivência com Jesus, o seu messianismo.
Essa mulher é Maria Madalena que foi a primeira a ser enviada para anunciar a Ressurreição, foi a primeira a ser “ordenada” para o serviço da evangelização. Portanto houve mulheres discípulas e apóstolas que exerceram seus ministérios.
Maria Madalena se destacou entre os homens e mulheres que seguiam Jesus rompendo preconceitos, superou barreiras para chegar até Jesus ungido-lhe os pés. Assim, Jesus aprova esse gesto de amor e confirma “em verdade vos digo que, onde quer que venha a ser proclamado o evangelho, a todo mundo, também o que ela fez será contado em sua memória”(Mc.14,9). Ela que padeceu aos pés da Cruz, foi compensada com a Boa Nova da Ressurreição e a anunciou aos onze e a todos os outros (Lc.24,9).
Marta e Maria foram amigas e discípulas de Jesus, cada uma ao seu modo.
Maria é elogiada pelo próprio Cristo dizendo: “ela escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada” (Lc.10,42), isto é, porque ficou sentada aos pés do Senhor escutando-lhe a Palavra (Lc.10,39). Era assim que um rabino formava os seus discípulos, sentados aos seus pés, escutando sua palavra. Aqui Jesus aplica essa prática a uma discípula mulher.
Marta, sua irmã, não fica para trás em termos de discipulado. Na morte de Lázaro, ao chegar Jesus, ela corre ao seu encontro e confessa a sua fé e aguarda a atitude de Jesus. O milagre consumado ela sai proclamando para todos. Foi considerada diaconisa.
Marta e Maria representam a acolhida da mulher para com os seus hóspedes onde o próprio Jesus era recebido com alegria e amizade após suas peregrinações e exaustivas pregações.
– MARIA DE NAZARÉ, a Mulher –Quando falamos da mulher, sob o ponto de vista bíblico, temos que falar em Maria: a mulher Maria de Nazaré. Ela viveu num tempo e num espaço, num contexto determinado, inserida em estruturas familiares, sociais, econômicas, políticas e religiosas.
Maria é apresentada como modelo para a mulher cristã. Vive na passagem do Antigo e o Novo Testamento, experimenta o que quer dizer ser mulher no judaísmo patriarcal, ao mesmo tempo que participa e saboreia o gosto da Boa Nova trazida por Jesus. Ela toca na vivência a nova experiência comunitária libertadora que seu Filho inaugura, tratando as mulheres como iguais e integrando-as no projeto salvador do Reino de Deus. Sem deixar de viver, portanto, toda a imensa riqueza do judaísmo e da reflexão de fé de seu povo, Maria é portadora, de uma nova esperança e um novo modo de ser mulher.
Maria é para a mulher uma nova perspectiva de crer, de falar, de esperança e caminhos. Ela não é apresentada como estilo de mulher alienada, passiva e submissa, mas alguém que foi plenamente mulher de seu tempo, integrada na esperança e na luta de seu povo, participando com o melhor de sua força no projeto histórico do Reino de Deus.
Deus criou homem e mulher para a igualdade entre eles. Na pessoa de Maria de Nazaré, Deus fez a plenitude de suas maravilhas. É na carne e na pessoa de uma mulher que a humanidade pode ver, então, sua vocação e seu destino levados a bom termo, a criação chegada à sua meta. Maria com seu SIM a Deus, disse NÃO a tudo que se opunha ao plano de Deus, deixando assim, às mulheres um exemplo de luta para essa igualdade da criação. Em Maria, as mulheres encontram um reforço e uma ajuda na sua caminhada e na sua dura luta em direção à igualdade e à libertação.
A Mulher na época de Jesus e hoje:
A participação da mulher na sociedade vem sofrendo profundas transformações. A mulher está mais consciente, busca igualdade sem perder o que é próprio seu. Hoje, mais do que nunca, a mulher vai à luta, está se encontrando como agente social, não é mais anônima, dá opinião e age com segurança frente as mais diversas situações. Acredita no que faz, se sente importante. Não age por que alguém está cobrando ou por modismo. Na luta pela igualdade a mulher deve conhecer seus limites, pois não basta ser somente igual em seus direitos ou deveres, não basta mudar a linguagem, é preciso mudar, transformar as relações, as atitudes, a consciência, a mentalidade.
A participação da mulher na sociedade não deve ser encarada como complemento na vida. É preciso ter equilíbrio entre o espaço “público”(trabalho) e o espaço “privado”(o lar, a família).
Hoje é comum, moderno, o uso da linguagem integradora porém, isso não é sinônimo de transformação, pois na realidade, no dia a dia a mulher se depara com os gestos e atitudes opressivas, patriarcais, excludentes.
REFERÊNCIAS
STORNIOLO, Ivo. Como ler o Evangelho de Lucas. Os pobres constroem a nova história. São Paulo: Paulus, 1992.
MEYERS, Carol. As raízes da restrição – As mulheres no Antigo Testamento. Estudos Bíblicos, A mulher na Bíblia, n. 20, Petrópolis, Vozes, 1988, p. 9-26.
JESUS E A LEI
O presente texto “Jesus e a Lei” nos desafiam a pensar em nosso contexto de Leis, fazendo um contraponto com o hoje e o tempo de Jesus. O texto inicia com uma leitura das atitudes de Jesus frente à legislação da Lei de seu tempo e analisa aos seguintes episódios: quem é o próximo e o não próximo; o sistema do culto e do Templo; a observância do Sábado; a lei do puro e do impuro. Isto tudo representava a fundamentação legalista do sistema judaico. No final confirma-se que Jesus rompeu com as velhas normas e propõe a observância da Lei do amor que geram vida.
Podemos nos perguntar: como se portou Jesus frente à Lei e a legislação de seu tempo? Como o cristão deve portar-se frente às leis aprovadas e estabelecidas?
Nos temos a fama de desrespeitar a ordem e a Lei estabelecida. Mas onde está o erro? Não estaria na própria lei que desrespeita o homem, tornando-se instrumento de exploração, joguete de interesses de grupos avaros de riqueza? Como exemplo disto, temos todos os Decretos-Leis, no setor econômico brasileiro. Nas Leis que fixam os coeficientes de inflação, nas que estabelecem os juros bancários etc… Nas leis e normas que orientam a aposentadoria do trabalhador brasileiro. Quantas alterações, emendas, suspensões, criações de novas leis! Sem falar dos nossos políticos que se envolvem em escândalos de corrupção e que durante meses e anos são feitos julgamentos e que no final não se chega à conclusão nenhuma.
Podemos crer que a maneira irônica que Cristo viveu com as Leis de sua época e as reinterpretou é luz no emaranhado de nossa vida. Nós que buscamos um mundo conforme o Plano de Deus.
As Leis geradoras de morte, nas estruturas do tempo de Jesus e a Nova Lei
Jesus viveu na Palestina, dentro do quadro do Império Romano e do Judaísmo. Encontrou estruturas sociais geradoras de morte, tais como o sistema da Lei no Judaísmo e também as Leis econômicas do Império Romano. Para podermos compreender em profundidade as atitudes de Jesus e seus gestos, temos que entender também a situação do homem de seu tempo. Só assim vamos ter a compreensão do posicionamento de Jesus perante a Lei, e o porquê de sua interpretação irônica (muitas vezes) da mesma.
Jesus, em sua época, conseguiu distinguir, de modo claro, as estruturas do seu tempo que sustentavam Leis de morte, daquelas Leis que geravam vida. Perpassando as páginas do Evangelho, encontramos Jesus em constante conflito com os Fariseus, pois eram os guardiões da mais terrível estrutura de morte de sua época.
Entretanto, alguns podem pensar que a dominação do Império Romano pudesse oferecer o maior peso de sofrimento ao povo judeu. Olhando dentro da globalidade da situação, a dominação romana representou apenas uma parcela e nos Evangelhos pouca referência a ela encontramos.
As atitudes de Jesus frente às Leis estabelecidas
Se conferirmos os textos que falam de Jesus perante a lei estabelecida, vamos ver que Jesus a desrespeitou muitas vezes. Esta maneira nova de pensar acerca da Lei criou para Jesus um repúdio dos Fariseus, Saduceus, Sacerdotes, que culminou com a morte na Cruz. Os Fariseus, mestres do Judaísmo, criticavam asperamente as atitudes de Jesus, pois eram um desrespeito a ordem estabelecida.
Poderíamos nos perguntar por que Jesus não atacou diretamente a estrutura geradora de morte do Império Romano, em vez do Judaísmo. De fato, o Império Romano representava a opressão do dominador estrangeiro, mas não era a espinha dorsal do sistema de morte na Palestina. O Judaísmo, fortemente firmado pela ideologia da Lei e do sistema do Puro e do Impuro (interpretada de modo diverso pelos partidos políticos), decretava, de fato, a morte do povo todo que vivia na Palestina.
Cristo percebeu isto, viu onde de fato deveria iniciar o seu trabalho libertador, e tomou as mais variadas atitudes frente a situações diversas, que deixaram os Fariseus atônitos.
A. Quem é o próximo e o não-próximo? O que tem de verdade nesta Lei?
Sério problema causador de morte a Lei que distinguia as pessoas e as classificavam em próximo e não próximo. Os Judeus, apoiados na Lei, desprezavam os Samaritanos por serem impuros, não passavam em seu território para não se tornarem impuros, desprezavam os Galileus, pois seus habitantes casavam-se com mulheres estrangeiras. Natanael diz a Felipe: “De Nazaré, pode sair algo de bom?” (Jo 1,46). Da mesma forma, no Templo, os estrangeiros podiam apenas entrar no átrio dos Gentios e antes da entrada do Templo propriamente dito, dos sacrifícios, existia uma placa condenando à morte os não-judeus que por ali passassem.
Cristo trouxe uma nova interpretação a esta Lei: não existia mais o ‘não-próximo’ e ilustrou a nova doutrina com a parábola do Bom Samaritano, dando uma resposta ao legista que lhe pergunta: “E quem é o meu próximo” (Lc 10,29): 0 próximo é, para todo o homem, aquele de que nos aproximamos, quer necessite de ajuda quer não.
B. Qual é a verdadeira Lei do Culto e do Templo
Mesmo independentemente dos Evangelhos, podemos concluir que Jesus, como Judeu, durante a sua vida, esteve muitas vezes no Templo de Jerusalém, por ocasião das Festas Judaicas. As Leis Judaicas prescrevem três Festas de peregrinação obrigatórias, enumeradas no Código da Aliança (Ex 23,14-20), segundo o calendário agrícola: na primavera, a Festa dos Ázimos (Páscoa); no verão, a Festa da colheita ou Semanas (Dt 16,9); e outra celebrada no outono, a Festa das Tendas ou Colheita dos Frutos. “Três vezes ao ano, toda a população masculina comparecerá diante do Senhor” (Dt 16,16).
Os Evangelhos Sinóticos nos falam que Jesus participou apenas de uma Festa da Páscoa em Jerusalém. Mas o Evangelho de João, mais fiel à cronologia, cita a participação de Jesus em cinco festas na cidade de Jerusalém, durante os três anos de vida pública, sendo três delas da Páscoa (Jo 2,13: 1ª Páscoa; Jo 5,1: Festa de Pentecostes ou das 7 Semanas; Jo 6,4a: 2ª Páscoa; Jo 7,2: Festa dos Tabernáculos; Jo 10,22: Festa da Dedicação; Jo 13,1: 3ª Páscoa). Tudo isto atesta que Jesus era fiel cumpridor das prescrições acerca das peregrinações a Jerusalém.
Mas Jesus toma também certas atitudes que geraram conflitos imediatos com os Sacerdotes, Saduceus e Fariseus. O Evangelho de João nos apresenta, logo no início, a questão dos vendilhões do Templo (Jo 2,13). Era a Festa da Páscoa, Jesus estava em Jerusalém, sentia o sistema de morte que representava o Templo; pois era o centro religioso, econômico e político. Todo o povo pelo menos três vezes ao ano, deveria ir lá para as purificações. 0 Templo centralizava o poder econômico: ali se encontrava o dinheiro recolhido do dízimo, ali estava o tesouro público, ali era o lugar mais seguro da Palestina. Era justamente neste Templo que a discriminação entre as pessoas se fazia sentir. Existiam as classes sociais, os que ditavam e faziam as Leis para o povo. Também no Templo se exercia o poder político: ali funcionava o Sinédrio que, aliado ao Império Romano, governava a povo judaico.
Cristo, no episódio da expulsão dos vendilhões do templo (Jo 2,13-25; Mt 21,12-13; Mc 11,11.15-17; Lc 19,45-46) quer estabelecer uma nova ordem, pretende terminar com uma estrutura que ditava leis de morte ao povo. O fato ocorre na Páscoa para dar sentido de passagem. Lembra assim a saída do Egito, da terra da escravidão, para a terra da promessa. Cristo, destruindo o Templo, estava destruindo de vez o sistema diabólico de manipulação da Lei. Ele mesmo passaria a ser o ‘Templo’ e, daí por diante, não haveria mais necessidade de um lugar material para o culto (Ap 21, 22): é no seu Corpo ressuscitado que Deus manifesta a sua Glória. A identidade do ser cristão se encontra na fé no Senhor Jesus, morto e ressuscitado, e na união da Comunidade dos que tem fé.
C. A Lei da observância do Sábado: Como entender?
A relativização da Lei farisaica chega a um ponto crucial. Jesus realiza trabalhos que não eram permitidos no Sábado. Os Judeus o condenam violentamente. Ele realiza curas no Sábado, trabalho este condenado segundo a casuística farisaica (Mt 12,10; Mc 3,2; Lc 6,7; 14,5; Jo 5,8). Sob os olhos de Jesus, os discípulos colhem espigas de trigo (Mt 12,1-8; Lc 6,1-5; Mc 2,23-28). Jesus, vendo toda esta casuística farisaica, verdadeiro instrumento de escravidão e de morte, toma atitudes inesperadas e provocatórias diante dos Fariseus.
No episódio da observância do Sábado, Cristo redimensiona a Lei. Coloca como o mais importante, o Homem em vez da Lei: “0 Sábado foi feito para o Homem; e não o Homem escravo do Sábado” (Mc 2,27). Esta atitude de Jesus faz com que a longa lista do que era permitido ou proibido fazer no Sábado caia por terra. De agora em diante, é a Lei do Amor que governa as ações do homem.
D. Lei do Puro e Impuro: marginaliza o pobre
Junto com a questão do Sábado, vem a reinterpretação que Jesus faz com as leis farisaicas do puro e impuro. Jesus escandaliza, toca nos leprosos (Mc 1,41; Mt 8,2; Lc 5,12), toca no cadáver do filho da viúva de Naim e o ressuscita. Os seus discípulos escandalizavam os Fariseus, porque comiam e bebiam sem lavar as mãos. Tudo isto que Jesus e seus discípulos faziam, tornava impuras as pessoas. Os Sacerdotes e Fariseus, vendo estas atitudes de Jesus e dos discípulos, os repreendiam severamente. Cristo viu que estas Leis do puro e do impuro eram uma carga pesada demais para o povo. Para tudo, existia uma Lei: o que devia comer ou não, vestir, a distância que podia caminhar no Sábado, ou o que poderia fazer etc. Existiam nada menos que 600 mandamentos.
Em conseqüência de todas estas leis, tornou-se para o pobre um peso insuportável observá-las e, com freqüência, infringia algumas, tornando-se impuros.
Para o pobre em tal situação, existia apenas um caminho: ir ao Templo de Jerusalém, nas Peregrinações, e ali oferecer um sacrifício, uma esmola, para tornar-se novamente puro. O sacerdote era o que recebia estas ofertas, centralizava o poder econômico em torno de si. Só o sacerdote tinha o poder de restituir ao impuro novamente a normalidade da vida. E o caso do leproso que Jesus cura e diz: “Vai mostrar-te ao sacerdote e oferece por tua purificação o que Moises prescreveu, para que lhe sirva de prova” (Mc 1,44).
A Lei do puro e do impuro tornou-se uma opressão insuportável. Cristo percebeu isto, e fazia observações a todo este ritualismo: “o que, de fato, suja o homem não é o que vem de fora, mas o que vem do interior do homem mesmo” (Mt 15,10-20).
A Título de complementações: Qual deve ser nossa atitude frente às leis que orientam nossas vidas?
Até agora constatamos como Jesus agiu perante as leis do seu tempo, como Jesus percebeu que as leis do seu tempo estavam sustentando um sistema de morte e opressão. Ele foi taxativo. Ele foi duro com o sistema do Templo e com o sistema do puro e do impuro, da discriminação da mulher, com o sistema do sábado.
Olhando agora para o nosso momento, estamos convidados a sermos vigilantes, a cobrar de nossos políticos o papel que desempenham de darem a nação leis e normas que possam trazer mais vida a todos indistintamente. Não tem nenhum sentido existirem leis que protejam grupos ou privilegiados de nossa sociedade. Agir desta forma é criar situações de injustiças que clamam aos céus e que cedo ou tarde serão eliminadas.
Leis que decretam a morte de milhões pela miséria e a fome não vêem de Deus. Cristo certamente as condenaria. Ao longo dos Evangelhos encontramos um Jesus que sempre esteve ao lado dos pequenos, mas para dar a eles vida: assim foi o caso da cura de tantos, leprosos, cegos, paralíticos. Jesus promoveu a mulher, (que na sua época era desclassificada) muitas delas se tornaram discípulas inclusive sua Mãe. Jesus indicou com suas atitudes novas formas de vivenciarmos as leis que são estabelecidas e que devem dar vida à humanidade.
A SELEÇÃO DOS EVANGELHOS
Segundo a lista de apóstolos dada no Novo Testamento, Mateus e João foram realmente apóstolos de Jesus. Mas Marcos e Lucas não. Eles foram apresentados nos Atos como colegas de São Paulo. Por outro lado, Tomé, Felipe e Pedro foram listados entre os 12 originais e, mesmo assim, os Evangelhos em seus nomes foram excluídos. Não só isso, mas eles foram sentenciados à destruição e, em todo o mundo Mediterrâneo, as pessoas enterraram e esconderam cópias dessas obras, junto com o Evangelho de Maria e inúmeros outros textos, que haviam, de repente, sido declarados hereges. Seguindo isso, o Novo Testamento estrategicamente compilado foi assunto de vários editais e emendas, até chegar à versão que conhecemos que foi aprovada pelo Concílio de Trento, no norte da Itália, ainda em 1547.
Apenas recentemente, alguns dos antigos manuscritos foram desenterrados, mas a existência desses livros não era segredo para os historiadores religiosos. Alguns deles, incluindo o Evangelho de Tomé, o Evangelho dos Egípcios e o Evangelho da Verdade, foram citados nos escritos de antigos sacerdotes, como Clemente de Alexandria, Irineu de Lion e Orígenes de Alexandria. Então, sob qual critério real foi feita a seleção dos Evangelhos? Foi um regulamento totalmente sexista que evitou qualquer coisa que desse apoio ao status das mulheres na Igreja ou na sociedade da comunidade.
A Igreja de Roma era a Igreja Apostólica de São Pedro, e a visão de Pedro ficou muito clara no Evangelho de Tomé, que afirma que Pedro se opunha fortemente à presença de Maria Madalena no séquito de Jesus. O texto afirma, voltando-se para os outros apóstolos: “Simão Pedro disse para eles: Permita que Maria nos deixe, pois as mulheres não são dignas da vida”.
Além disso, já testemunhamos o aparente desagrado de Pedro com respeito ao envolvimento de Maria em outras ocasiões. No Evangelho de Maria, Pedro contesta a relação dela com Jesus, dizendo: “Ele teria falado em particular com uma mulher e não abertamente conosco? Por que devemos mudar de idéia e ouvi-Ia?” De novo, no tratado cóptico de Pistis Sophia, Pedro reclama da participação de Maria e pede a Jesus que a reprima por questionar sua supremacia.
Desde o início da sociedade cristã, no século I, surgiram duas facções distintas. Na posição principal estava o movimento nazareno do irmão de Jesus, Tiago, com Simão Zelote, Felipe, Tomé e Tadeu, junto com Judas, Salomé, Maria Madalena e a família dos Desposyni, a que geralmente eram associados. Depois havia a escola evangélica de Pedro e Paulo (geralmente chamada de movimento paulino), centralizada em Roma. Com o tempo, ela se tornou um “Igrejanismo” em vez do Cristianismo em sua forma original e por fim se sobrepôs à fraternidade nazarena, tornando-se depois a religião oficial do Estado dos imperadores.
Apesar de Constantino ter manipulado o Cristianismo, transformando-o em um híbrido com o culto do Sol e de outras crenças pagãs no século IV, ele não pode ser responsável por toda a extensão da corrupção. Os primeiros protagonistas do que se tornou a Igreja ortodoxa moldaram a religião para se adaptar às suas próprias ambições muito antes da época de Constantino. Clemente de Alexandria retirou a história de Lázaro do Evangelho de Marcos em cerca de 195 d.C. e Quintus Tertuliano já tinha definido o cenário contra o envolvimento feminino na mesma época, declarando em Mandamentos da Disciplina Eclesiástica:
Não é permitido para uma mulher falar na igreja, não é permitido que ela seja batizada, nem que se ofereça à Eucaristia, nem que reivindique para si uma parte de qualquer função masculina, principalmente no oficio sacerdotal.
Nesse aspecto, Tertuliano (um pai da Igreja de Cartago) estava expressando um sentimento geral do movimento paulino – reiterando e destacando as opiniões documentadas de seus predecessores, principalmente de Pedro e Paulo.
No Evangelho de Felipe, Maria Madalena é vista como símbolo da sabedoria divina, mas todos esses textos foram extirpados pelos bispos da Igreja em desenvolvimento, porque eles enfraqueciam o domínio do sacerdócio exclusivamente masculino. De acordo com as epístolas de São Paulo, seu ensinamento foi exposto:
Que a mulher aprenda em silêncio com toda a submissão. Pois não permito que a mulher ensine nem tenha domínio sobre o homem, mas que esteja em silêncio. (1 Timóteo 2:11-12)
Tais diretrizes, junto de outros pronunciamentos similares, foram encontradas na Constituição Apostólica – um longo e abrangente conjunto de regras da Igreja Católica que foi iniciado por São Clemente e concluído pelo bispo Constantino. Eles são chamados de “os mais sagrados de todos os livros canônicos e das leis cristãs”.
Editais impositivos como esses citados tiveram sucesso na supressão do legado de Maria Madalena. Entretanto, apenas para ter certeza, a Constituição Apostólica realmente foi tão longe a ponto de especificar seu nome, adicionando: “Nosso Mestre e Senhor, o próprio Jesus, quando nos enviou os 12 para serem discípulos das pessoas e das nações, não enviou a lugar algum mulheres para rezar”. Então, citando São Paulo novamente (de 1 Coríntios 11:3), diz: “Pois, se a cabeça da mulher é o homem, não é lógico que o resto do corpo deva governar a cabeça”!
É perceptível, a partir do texto da Constituição, que, dentro da comunidade nazarena, as mulheres estavam muito envolvidas no clero. Portanto, o documento vai muito além na advertência contra a prática, afirmando que “não há o menor perigo para aqueles que assegurarem isso”, Na discussão sobre o batismo, em particular, a Constituição Apostólica afirma que é “perigoso e herético” para uma mulher atuar nessa ou em qualquer outra função sacerdotal.
Para justificar isso, é explicado que: “se o batismo fosse para ser administrado por mulheres, certamente Nosso Senhor teria sido batizado por sua mãe e não por João”. “Essas mulheres hereges” escreveu Tertuliano, “como são audaciosas! Elas não são modestas. Elas são ousadas demais para ensinar, para se envolver em discussões”.
Para termos uma perspectiva geral disso, é preciso ser mencionado que essa forma do Cristianismo da Igreja pré-romana era muito similar à instituição ao estilo judeu. Os seguidores eram, em prática, judeus-cristãos e mantinham muitas idéias tradicionais. Na sociedade dos hebreus, as mulheres nunca eram contadas em menos de dez exigidas para realizar o serviço da sinagoga.
O Talmud Palestinian declara: “As palavras do Torá serão destruídas no fogo assim que sejam ensinadas pelas mulheres”. E as mulheres eram, em temos gerais, tratadas como mortais inferiores, com menos privilégios que os homens. Deuteronômio 22:23-27 declara, por exemplo, que a virgem que é violada na cidade deveria ser sentenciada à morte porque ela poderia facilmente ter gritado por ajuda!
É com referência a esses assuntos que as idéias socialmente mais equilibradas e tolerantes da fraternidade nazarena sobre Jesus diferenciavam-se tanto. Havia um grau demarcado de igualdade não encontrado na sociedade rígida judaica ou da posterior judaico-cristã, mas, infelizmente, o Cristianismo romano herdou a perspectiva intolerante daqueles como Tertuliano.
Muitas das mulheres que seguiam os grupos do estilo nazareno foram formalmente declaradas hereges, promovendo um ensinamento baseado na instrução do terapeuta ascético em Qumran. Esses ensinamentos eram voltados para uma base espiritual, enquanto a forma romana do Cristianismo era muito materialista e os ensinamentos místicos eram vistos como uma enorme ameaça.
A estratégia de Roma contra as professoras foi que elas deveriam ser consideradas pecadoras e sujeitas à autoridade de São Paulo, que escreveu (em 1 Timóteo 2:13-14): “Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão”.
Por volta do século II d.C., foi iniciado um processo de segregação nas Igrejas cristãs: os homens realizavam o ritual, as mulheres oravam em silêncio. E, no fim do século, até esse nível de envolvimento tinha desaparecido e a participação das mulheres no culto religioso foi totalmente proibida. Qualquer mulher que participasse das práticas religiosas era denunciada como meretriz e bruxa.
Naquela época, os nazarenos eram impopulares não só com as autoridades romanas, além de muito perturbadas pelos cristãos paulinos principalmente por Irineu, bispo de Lion (nascido em 120 d.C.). Ele as condenou como hereges por afirmarem que Jesus era um homem e não uma origem divina, como era regido pela nova Fé. Na verdade, ele até declarou que Jesus tinha praticado a religião errada, e que ele mesmo errava em suas crenças! Irineu escreveu sobre os nazarenos, que ele chamou de ebionites (pobres):
Eles, como o próprio Jesus, bem como os essênios e os zadoques de dois séculos antes, explicam os livros proféticos do Antigo Testamento. Eles rejeitam as epístolas paulinas e rejeitam o apóstolo Paulo, chamando-o de um apóstata da lei. Em retaliação, os nazarenos do movimento dos Desposyni denunciaram Paulo como um “renegado e falso apóstolo”, afirmando que seus escritos de idolatria deveriam ser todos rejeitados.
Na visão do temor particular da Igreja sobre Maria Madalena, foi produzido um documento extraordinário para ser distribuído entre os ortodoxos. Ele registra qual seria a posição que os bispos davam a Maria dentro do esquema das coisas. Intitulado A Ordem da Igreja Apostólica, ele foi transcrito de uma presumida discussão entre os apóstolos, e declarava (o que os Evangelhos não fazem) que tanto Maria como Marta estavam presentes na Última Ceia. A esse respeito, ele de certa forma destrói parte de seu próprio objetivo ao permitir às mulheres tal prerrogativa – mas ele tinha um objetivo destrutivo bem diferente. Em um trecho do suposto debate, lê-se:
João disse: Quando o Mestre abençoou o pão e a taça e designou-os com as palavras: Isso é meu corpo e meu sangue, ele não os ofereceu às mulheres que estavam conosco.
Marta disse: “Ele não os ofereceu à Maria, porque ele a viu rindo”.
Com base nesse diálogo imaginário, a Igreja decretou que os primeiros apóstolos tinham decidido que às mulheres não era permitido se tornarem sacerdotisas porque elas não eram sérias! A essência dessa conversa fabricada foi, então, adotada como uma doutrina formal da Igreja, e Maria Madalena foram, a partir de então, declarada uma descrente desobediente. Mais de 1.600 anos depois, nada tinha mudado muito e, em 1977, o papa Paulo VI decretou que uma mulher não poderia ser sacerdotisa “porque Nosso Senhor era um homem”!
Por toda a determinação da Constituição Apostólica, a aparente antipatia de Pedro e Paulo pelas mulheres foi taticamente utilizada para estabelecer um ambiente dominado pelos homens, mas as declarações citadas desses homens foram escolhidas com muito cuidado e algumas vezes fora de contexto.
Apesar do aparente desejo do domínio masculino de São Paulo, suas cartas faziam menções em particular às mulheres que o auxiliavam: Febe, por exemplo, que ele chamava de “serva da Igreja” (Romanos 16:1-2), junto com Júlia (16:15) e Prisca, a Mártir (16:3-4). Na verdade, o Novo Testamento (mesmo em sua forma editada estrategicamente) está repleto de mulheres discípulas, mas os bispos da Igreja romana preferiram ignorar todas elas.
A hierarquia da Igreja tinha tanto medo, que a regra do celibato foi implementada para seus sacerdotes – regra que se tornou lei em 1138 e que persiste até hoje. Entretanto, o que realmente incomodava os bispos não eram as mulheres como tais, nem mesmo a atividade sexual em termos gerais; era a possibilidade da familiaridade sacerdotal com as mulheres.
Por quê? Porque as mulheres podem se tornar mães, e a própria natureza da maternidade é a perpetuação das linhagens. Isso foi um assunto tabu que, a qualquer custo, tinha de ser separado da imagem básica de Jesus.
Mas não foi como se a Bíblia sugerisse tal fato. Na verdade, foi exatamente o contrário. São Paulo tinha dito, em sua segunda epístola a Timóteo 3:2-5, que um bispo deveria se casar e ter filhos. Ele explicou que um homem com experiência em sua própria casa está mais qualificado para cuidar da Igreja. E mesmo que os bispos preferissem confirmar as opiniões de Paulo em vez dos ensinamentos de Jesus, eles optaram por ignorar completamente essa diretriz específica, de forma que até a situação marital de Jesus pudesse ser ignorada.
Fonte: O Legado de Madalena – Conspiração da Linhagem
de Jesus e Maria – Revelações sobre o Código Da Vinci
Autor: Laurence Gardner
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